«Certo dia, uma vizinha veio visitar o avô e trouxe a neta. Mariana era uma miúda da sua idade e, por isso, logo trataram de se conhecer. Francisco simpatizou com ela. Não era manienta e até alinhava nas suas conversas e brincadeiras.
Às vezes, ficavam sentados junto da oliveira e falavam de coisas intrigantes e misteriosas. Era assim que gostava de lhes chamar: «coisas intrigantes e misteriosas». Fazer perguntas e procurar respostas era uma espécie de jogo de que ambos gostavam. Ao princípio, Mariana ficava um pouco desconcertada com as perguntas de Francisco, mas, passado algum tempo, também ela contribuía com interrogações sobre as tais coisas intrigantes e misteriosas. A vida, a morte, o trabalho, a felicidade, os outros, a Natureza, o pensamento e muitos mais assuntos eram, para os dois meninos, motivo de inúmeras questões, para as quais procuravam respostas.
«Porque é que vivemos? O que é ser feliz? Porque precisamos de trabalhar? Podemos viver uns sem os outros? Seríamos os mesmos sem a existência dos outros? É possível entender tudo? Se alguém entendesse tudo, continuaria a pensar? O que é pensar?»
Francisco e Mariana entregavam-se a estas e a outras infindáveis perguntas, descobrindo assim o prazer de questionar o mundo.
Durante estes diálogos, o Cusco assistia serenamente ao entrelaçar de palavras, deitado com o focinho entre as patas e seguindo fixamente cada movimento.
A grande oliveira parecia compreender a conversa dos dois meninos, abanando suavemente os seus ramos a cada ideia e produzindo um sussurro de brisa com o respirar brando, naqueles dias quentes de verão. A sua sombra e frescura tornavam-na cada vez mais majestosa aos olhos de Francisco.»
In "A Oliveira Mágica"
Celeste Almeida Gonçalves