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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O aniversário


Pergunta a menina, sorrindo, ao senhor que passa:

- Olá, como vai o senhor?

O homem, já velho, tem o corpo cansado e o semblante carregado.

Enche-se de espanto perante o sorriso inocente da menina.

Com o tempo, esquecera-se de como é o sorriso de uma criança.

Esquecera-se da inocência e ainda mais da bondade.

Respondeu-lhe, então:

- Depois de te ver, os meus olhos já não estão cegos para a luz.

A minha alma recorda-se, agora, da ternura.

Hoje é o meu aniversário e tu és o melhor presente que recebi.

A menina sorriu ainda mais e disse-lhe:

- Quando for grande e tiver muito dinheiro, ofereço-te um presente a sério!

O homem velho e cansado encolheu os ombros e, sem jeito, entreabriu os lábios esboçando um tímido sorriso.

Os melhores presentes eram as pessoas. Existiam poucas na sua vida, o que, no seu caso, significava muitas. Isso sabia ele.

A menina segurou-lhe a mão e caminhou a seu lado ao longo da pequena rua.

Quando o homem velho e cansado entrou em casa, reparou que tinha girassóis sobre a mesa.

Celeste de Almeida Gonçalves


  Ilustração de Sandra Serra para o livro "As Flores Também Sonham"     

sábado, 19 de junho de 2021

terça-feira, 15 de junho de 2021

O Duende e a Cabana


                                                                                                                        Ilustração de Sandra Serra

Numa grande árvore com fartas folhas verdes, tronco para abraçar e vigorosos ramos, um jovem duende construiu uma cabana, que de vermelho pintou e onde um tesouro guardou.  

Instalada firmemente na acolhedora árvore, aquela casinha de sonho, tinha horas infindáveis de paciente trabalho.

O suor escorrera durante dias e dias pelas faces deste aprendiz de carpinteiro. As suas mãos ficaram calejadas pelo manejo das ferramentas, as pernas doridas e as costas derreadas, por causa das pesadas tábuas que carregou.

Ficara linda a cabana, bordada pela folhagem, com porta e janela para o céu azul espreitar, as estrelas e a lua contemplar.

Mas passou por aquela árvore, varreu os campos, em fúria, um monstro endiabrado, que parecia o vento irado. Era enorme este ser malvado. Desgrenhado e de olhos esbugalhados, tinha boca de caverna e corpo de  rochedo. Que medo!

Cruel, o monstro desajeitou o sonho do duende e, furioso, à cabana arrancou a alma, tábua a tábua.

Abandonada pela sorte, foi a cabana caindo, atirada em arremesso por aquele ser impiedoso, até restar desmanchada no chão.

Tinha o monstro debandado, quando o duende, dela se abeirou e, ao ver tamanha destruição, dentro dele, um turbilhão de emoções se acendeu como um clarão.

Cerrou os dentes e as mãos, os olhos chisparam revoltados e choveram lágrimas que escorreram pelas suas faces vermelhas, até formarem um rio de raiva.

Tremeram-lhe as pernas, doeu-lhe a barriga e o jovem duende sentiu que, por vezes, a injustiça também vence.

Mas a cabana ali estava, aguardando um ser gentil que com calma e persistência, brincasse de novo com ela, consertando o desvario do  monstro, juntando as suas peças como um puzzle,  dando-lhe vida outra vez.

E sob um ameno sol, com a frescura da aragem, o duende amaciado reuniu forças, desfez a raiva e reconstruiu a cabana, vestindo-a com um luminoso amarelo.

Que encantador fica o duende, espreitando pela janela e, quantas vezes, subindo a escadinha de madeira, ruma a um novo sonho, com outro tesouro para abrigar.

Quanto ao monstro, encolheu, encolheu, encolheu, até ficar do tamanho de uma minúscula pedra. Iniciou, então, uma nova viagem, quando um menino, ao brincar, o atirou ao mar. Será que ele sabe nadar?  

 

Celeste Almeida Gonçalves


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