Num grande jacarandá, que quase toca o céu azul e beija as brancas nuvens, mora uma casa.
Tão bonita fica, entre os ramos coloridos da
maravilhosa árvore.
Duas janelas tem a casa, que se abrem dia a dia e, por
elas, miram duas fadas.
Tão lindas ficam as fadas, olhando o horizonte pelas
janelas da casa.
Rosália tem longos cabelos ruivos ondulando com o
vento.
Líria tem cachos de caracóis que pendem como amoras
silvestres.
Enfeitam-nas vivos olhos cor de esmeralda e belas asas
tecidas com finos fios de prata.
O que não têm as fadas é varinha de condão, mas em vez
desta, o poder de adivinhar quando a alegria e
a tristeza visitam o seu coração.
Basta que, para tal, o olhar de uma encontre o olhar
da outra.
E, ora, estavam alegres, ora, estavam tristes, as duas
fadas amigas.
Haveria razões para tal, mas nem sempre as sabiam
explicar.
Um dia, a alegria demorou-se um pouco mais de tempo
dentro do coração de Rosália. Enquanto em Líria, a tristeza se fechou a sete
chaves.
De tal modo que uma passou a ser a fada
da alegria e a outra a fada da tristeza.
A certa altura já não se entendiam muito bem…
A partir de então, a fada Rosália evitava olhar a fada
Líria, pois sentia-se incompreendida. E a fada Líria baixava os olhos e não
queria olhar a amiga para não lhe roubar a alegria.
Assim estiveram durante algum tempo, recolhendo-se
cada uma em seu canto.
Uma rasgava sorrisos, saltitava de contentamento e os
seus olhos tinham o brilho de estrelas felizes.
A outra contraía os lábios, deixava descair as pálpebras
e desmaiar as faces por onde rolavam lágrimas como cristais.
Porque estariam assim, tomadas pelas emoções? Será uma
história que tu poderás imaginar…Mas, adiante.
Certo dia, cansada de no seu canto estar, a fada da
tristeza encarou a fada da alegria e esta correu para ela e ofereceu-lhe o seu
maravilhoso sorriso, o brilho dos olhos e, com eles, uma singela e bela flor.
As mãos da fada Líria seguraram a flor e as suas
lágrimas tornaram-na tão viçosa que esta se abriu de felicidade. As suas
pétalas transformaram-se em asas de algodão que secaram as lágrimas da fada da
tristeza. Só uma delas, rolando pelas verdes folhas, foi colhida pela mão da
fada da alegria.
E foi assim que a fada da tristeza sorriu, olhando a
fada da alegria e, esta um pouco se entristeceu ao receber a cristalina lágrima
da amiga, desprendendo-se ternamente da flor.
As duas fadas deram um abraço e entrelaçaram as mãos.
Abriram a porta da casa suspensa no grande jacarandá e desceram pela escada de
arco-íris.
Correram juntas, pelos verdes campos festejando a luz
do sol, as cores, o aroma das flores, a frescura da água e também as nuvens
cinzentas, a chuva que tudo lava e até as pedras teimosas que as faziam
tropeçar.
Aprenderam que a alegria e
a tristeza fazem parte da vida, rodando como um carrossel numa
montanha com altos e baixos.
Celeste Almeida Gonçalves
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