Numa
grande árvore com fartas folhas verdes, tronco para abraçar e vigorosos ramos,
um jovem duende construiu uma cabana, que de vermelho pintou e onde um tesouro guardou.
Instalada
firmemente na acolhedora árvore, aquela casinha de sonho, tinha horas
infindáveis de paciente trabalho.
O
suor escorrera durante dias e dias pelas faces deste aprendiz de carpinteiro.
As suas mãos ficaram calejadas pelo manejo das ferramentas, as pernas doridas e
as costas derreadas, por causa das pesadas tábuas que carregou.
Ficara
linda a cabana, bordada pela folhagem, com porta e janela para o céu azul
espreitar, as estrelas e a lua contemplar.
Mas
passou por aquela árvore, varreu os campos, em fúria, um monstro endiabrado,
que parecia o vento irado. Era enorme este ser malvado. Desgrenhado e de olhos
esbugalhados, tinha boca de caverna e corpo de rochedo. Que medo!
Cruel,
o monstro desajeitou o sonho do duende e, furioso, à cabana arrancou a alma,
tábua a tábua.
Abandonada
pela sorte, foi a cabana caindo, atirada em arremesso por aquele ser impiedoso,
até restar desmanchada no chão.
Tinha
o monstro debandado, quando o duende, dela se abeirou e, ao ver tamanha
destruição, dentro dele, um turbilhão de emoções se acendeu como um clarão.
Cerrou
os dentes e as mãos, os olhos chisparam revoltados e choveram lágrimas que
escorreram pelas suas faces vermelhas, até formarem um rio de raiva.
Tremeram-lhe
as pernas, doeu-lhe a barriga e o jovem duende sentiu que, por vezes, a
injustiça também vence.
Mas
a cabana ali estava, aguardando um ser gentil que com calma e persistência,
brincasse de novo com ela, consertando o desvario do monstro, juntando as
suas peças como um puzzle, dando-lhe vida outra vez.
E
sob um ameno sol, com a frescura da aragem, o duende amaciado reuniu forças,
desfez a raiva e reconstruiu a cabana, vestindo-a com um luminoso
amarelo.
Que
encantador fica o duende, espreitando pela janela e, quantas vezes, subindo a
escadinha de madeira, ruma a um novo sonho, com outro tesouro para abrigar.
Quanto
ao monstro, encolheu, encolheu, encolheu, até ficar do tamanho de uma minúscula
pedra. Iniciou, então, uma nova viagem, quando um menino, ao brincar, o atirou
ao mar. Será que ele sabe nadar?
Celeste Almeida Gonçalves